"Conto de primaveras" é uma poesia às diferenças, onde o narrador expõe sua trajetória de vida amaldiçoada desde antes de sua concepção. Em meio ao caos do aprendizado, ele descobre, inspirado pelo tempo, seu melhor amigo, a fórmula mágica para curar o mundo de todas as suas mazelas. 

Texto, Atuação e Direção: Paulo Vespúcio Garcia

Produção: Cristiano Sousa 

Assistente de direção:  Denis Santos

Trilha sonora:  Leandro Sács 

Técnica: Guilherme Nélio 

Cenotécnico:  Douglas Silva 

Foto: Rafael Rodrigues

Espetáculo Teatral - Monólogo de Paulo Vespúcio Garcia

Dias 16 e 17 de novembro

Censura 14 anos. Ingressos: R$ 30,00 (inteira)

Local: Zabriskie Teatro - Retorno Alameda Antônio Martins Borges, S/N - St. Pedro Ludovico Info:  3093-5542

“Conto de Primaveras” é uma prosa poética, não uma simples narrativa nem um poema, mas um gênero no meio termo. O espectador é convidado a sentir mesmo sem ter uma narrativa de fatos claros, pois o que importa não é a clareza dos fatos, mas a diegese do sentir/perceber. Esse contar dos fatos sem dizê-los completamente é o que angustia o interlocutor, que sempre espera que nas próximas frases o narrador revele o que o angustia, quais, ou quem, são seus antagonistas. O tempo é cronológico em sua linearidade de início, meio e fim, um elemento que facilita o acompanhamento dos fatos que não são completamente ditos. O Tempo é divindade e amigo, sendo melhor entendê-lo em sua forma mais comum, numa trajetória sem saltos temporais. Ademais, a linearidade é acrescida pelo aspecto de circularidade da obra, quando percepções narradas inicialmente são repetidas nas partes finais, dando-lhe coesão.

Dividido em blocos, o texto seguiria a seguinte cronologia temática: a) a personagem lançada ao mundo; b) a maldição percebida pelo outro e a ocorrência do ritual; c) a ação da divindade Tempo; d) o “eu” e a experiência/experimentação; e) a puberdade e o conflito com os outros; f) a reação para dentro e para fora, e o confronto com o reflexo; g) a escuridão, a solidão e a iluminação artificial; h) a adaptação e a iluminação própria.

Como não há uma referência clara sobre os fatos explícitos da narrativa, pode dar a impressão que o texto não está comprometido com nenhuma causa social específica; ao mesmo tempo, não parece estar vinculado a nenhuma inspiração de escola artística, nem literária, nem filosófica, nem científica. É, talvez, o único ponto que a “alta crítica” possa pegar no pé por parecer um projeto sem justificativa desse tipo. Se dissesse que o texto é uma adaptação da obra de Rainer Maria Rilke ou de Albert Camus, todos iriam aplaudir. Por isso, uma das opções que eu pensei, seria dizer que “Conto de Primaveras” é uma “inspiração autobiográfica e livre do conceito de Ser-aí”.

Alguns filósofos alemães utilizaram o termo Dasein (isto é, Ser-aí) – Hegel, Jaspers, e principalmente Heidegger; o sentido amplo é o de “estar fazendo algo aí”. Em Heidegger, o conceito se refere à “abertura da pessoa em direção ao Ser”, um estar aberto para um momento que desvela uma pequena parte do todo da existência. O Ser-aí é o homem, cada homem singular. As árvores, as montanhas e os animais são entes “diante dos olhos”, destituídos de Ser-aí.

Quando estamos envolvidos no fazer de algo, a experiência nos coloca em situações que, ao estar experimentando, fazemos isso de modo direto e sem elucubrações intelectuais. Às vezes movimentos aprendidos penetram na essência do Ser e passam a ser parte do Dasein, tornam-se diretos e intuitivos, o corpo passa a executar esses movimentos quase que independentemente.

O termo Dasein também pode indicar o grau de entrega do ser humano em relação ao mundo, em favor de uma rotina, do trabalho, dos costumes, cada ação que realiza é uma amostra de entrega e de contínua relação com a existência. #contodeprimaveras