08 set - 2019 • 11:00 > 08 set - 2019 • 13:00
08 set - 2019 • 11:00 > 08 set - 2019 • 13:00
A próxima edição do projeto DOMINGO NO MUSEU, no dia 8 de setembro, às 11h, no Museu de Arte da Pampulha, recebe dois grandes violonistas e faz um passeio pela raiz da música brasileira. O trabalho "Xodós", lançado em 2018, reúne os violonistas paulistanos Marco Pereira e Paulo Bellinati, que celebram uma parceria musical de quase cinco décadas, marcada por afinidades, técnica e dedicação à música brasileira e ao violão. O repertório é composto por arranjos instrumentais especialmente elaborados pelos instrumentistas para sucessos de Dominguinhos como "Eu Só Quero Um Xodó", "Isso Aqui Tá Bom Demais" e de Dilermando Reis como "Uma Valsa e Dois Amores" e "Se Ela Perguntar", além de composições próprias arranjadas especialmente para a formação de dois violões.
O DOMINGO NO MUSEU é realizado pela Veredas Produções e conta com patrocínio do Instituto Unimed-BH, por meio dos recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
| CONHEÇA OS ARTISTAS
PAULO BELLINATI | Formado pelo Conservatório de Genebra, é um dos mais respeitados violonistas brasileiros em todo mundo. Gravou uma dezena de discos solo e participou de shows e gravações ao lado de artistas como Steve Swallow, Carla Bley, Edu Lobo, Chico Buarque, César Camargo Mariano, Leila Pinheiro e Gal Costa, com a qual ganhou o “Prêmio Sharp 94” de melhor arranjador. Seus CDs lançados nos EUA são referência de qualidade, entre eles o premiado “The Guitar Works of Garoto” (1991), sobre a obra de Aníbal Augusto Sardinha (Garoto), “Lira Brasileira” (1997), com repertório autoral, e “Afro-Sambas” (1997), em duo com a cantora Mônica Salmaso. No Brasil produziu os CDs “Virado” (2009), em duo com Weber Lopes, e “Pingue-Pongue” (2011), em parceria com a violonista Cristina Azuma. Sua peça “Jongo” ganhou o 1º prêmio no Festival da Martinica e conta com mais de 50 gravações em todo o mundo. Seu “Concerto para Dois Violões e Orquestra” teve estreia mundial em junho de 2012, com os solistas do Brasil Guitar Duo à frente da OSESP, regidos pelo maestro Giancarlo Guerrero.
MARCO PEREIRA | Violonista, compositor, arranjador e produtor. Estudou violão na capital paulista, sob orientação do mestre uruguaio Isaías Sávio, e cursou Teoria Musical no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e na Universidade de São Paulo (USP). Viveu na França por 5 anos, onde recebeu o título de Mestre em Violão pela Université Musicale Internationale de Paris e defendeu tese sobre a música de Heitor Villa-Lobos no Departamento de Musicologia da Universidade de Paris-Sorbonne. Em Paris, recebeu forte influência jazzística e também de música latinoamericana, o que caracterizou, especialmente, seu trabalho de composição. Dono de vastíssima discografia, vem mantendo intensa atividade como solista no Brasil e no exterior ao longo de sua carreira. Suas composições estão editadas pela Editora Lemoine, de Paris, e têm sido gravadas e tocadas em concerto por grandes intérpretes europeus. Éprofessor adjunto no Departamento de Composição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
| SAIBA MAIS
Os xodós de Paulo Bellinati e Marco Pereira
por Carlos Calado
Um encontro de músicos de alto quilate, como Paulo Bellinati e Marco Pereira,
já seria por si só um evento especial, mas por trás do álbum “Xodós”
(lançamento com o selo de qualidade da gravadora e produtora Borandá) há
uma amizade de quase cinco décadas. Uma parceria musical marcada por
afinidades, perfeccionismo técnico e profunda dedicação a esse instrumento
tão essencial na linguagem da música brasileira.
Paulistanos, eles nasceram no mesmo mês de setembro, em 1950, com uma
diferença de apenas três dias. Conheceram-se quando cursavam
o Conservatório Dramático e Musical do Estado de São Paulo, onde
frequentavam aulas de violão com o mesmo mestre: o uruguaio Isaías Sávio.
Também cultivaram praticamente as mesmas referências no violão. “Nosso
grande ídolo foi Baden Powell (1937-2000). Naquela época quase não havia
partituras de música popular, então o jeito era ralar muito ouvindo os LPs, para
tirar de ouvido as músicas que queríamos tocar”, relembra Pereira.
Chegaram a se apresentar algumas vezes em duo, no início dos anos 1970,
mas a parceria foi suspensa quando decidiram aprimorar os estudos na
Europa. Depois de ingressar no Conservatório de Genebra, na Suíça, Bellinati
não demorou a formar um grupo de música instrumental brasileira. Pereira se
fixou em Paris, onde obteve o título de mestre em violão clássico e se tornou
um conceituado concertista. De vez em quando, um deles convidava o outro
para tocarem juntos.
De volta ao Brasil, já em 1981, os dois formaram o trio Pó de Mico, com o
percussionista Zé Eduardo Nazário. Apresentaram-se algumas vezes, mas
pouco depois Pereira decidiu deixar São Paulo para se tornar professor da
Universidade de Brasília. Ali assumiu a recém-criada cadeira de Violão
Superior, além de lecionar Harmonia Funcional. Paralelamente, seguiu com
sua carreira de solista erudito, mas também gravou elogiados discos de música
brasileira.
Já tocando guitarra, Bellinati uniu-se ao grupo instrumental Pau Brasil, com o
qual se destacou como solista e compositor por cerca de uma década. O
interesse pela música do violonista e compositor paulista Garoto (1915-1955)
reativou sua ligação com o violão, levando-o a uma bem-sucedida carreira de
concertista, especialmente em palcos dos Estados Unidos. Em 2002, voltou a
fazer parte do grupo Pau Brasil, com o qual continua tocando até hoje.
“Sempre me surpreendi com o fato de termos continuado nossas carreiras em
paralelo”, observa Pereira. “Alguns anos atrás tive a ideia de escrever um
concerto para dois violões e orquestra. Passei oito meses feito doido,
escrevendo. Estava finalizando o último movimento, quando li a notícia de que
o Bellinati ia estrear um concerto para dois violões e orquestra. Era muita
coincidência”, relembra o violonista, que sugeriu ao amigo, em meados de
2015, que retomassem a parceria.
A reestreia do duo se deu no Clube do Choro de Brasília (DF), algumas
semanas depois. No programa dessa apresentação já figurava boa parte do
repertório que viria a compor o álbum “Xodós”. Por sinal, os arranjos da dupla
para “Eu Só Quero Um Xodó”, “Isso Aqui Tá Bom Demais”, “De Volta pro
Aconchego” e “Gostoso Demais”, sucessos do sanfoneiro Dominguinhos (1941-
2013), nasceram para atender a um pedido da produção do Clube do Choro,
que costuma homenagear figuras importantes da música brasileira. “Eles
pedem que a gente toque ao menos uma música do homenageado, mas
acabamos tocando cinco. Poderíamos fazer até um disco inteiro dedicado a
Dominguinhos”, diz Pereira. Só a toada “Lamento Sertanejo” não entrou no
disco, mas o duo costuma toca-la nos shows. “É muito legal, porque as
pessoas saem cantando, espontaneamente, assim que a reconhecem”, conta
Bellinati.
Se o acaso contribuiu para a criação dessas saborosas versões instrumentais
de canções de Dominguinhos, as composições do violonista Dilermando Reis
(1916-1977) já frequentavam o repertório de Pereira desde cedo. Tanto que
este homenageou o influente mestre do violão, recriando com elegância suas
composições no álbum “Dois Destinos” (Borandá, 2016).
O batuque “Xodó da Bahiana”, o choro “Magoado” e a valsa “Se Ela Perguntar”,
interpretadas por Pereira em seu disco, ganham novos tratamentos e
sonoridades nas releituras do duo. Vale lembrar que, nas 14 faixas de “Xodós”,
Pereira toca violão com cordas de nylon no canal esquerdo; o violão com
cordas de aço de Bellinati é ouvido no canal direito.
“Já nos ensaios a gente se surpreendia ao notar que rola uma liberdade, uma
grande confiança entre nós, algo que não é comum entre qualquer músico. Se
você toca completamente relaxado, com a certeza de que seu parceiro está
100% com você, você toca com mais calor. O rendimento é muito maior”,
comenta Bellinati.
Pereira concorda com o parceiro e observa que a maturidade traz uma relação
diferente com a música. “Quando você tem vinte e poucos anos se preocupa
em impressionar o público com sua performance, com exuberância técnica.
Mais tarde você amadurece e passa a valorizar o resultado musical. Esse disco
também tem um pouco de exuberância, mas nós estamos a serviço da música
o tempo todo”, considera.
O repertório de “Xodós” inclui também composições próprias. “Foi difícil
escolher”, admite Pereira. “Ficamos com aquelas que poderiam funcionar bem
com os dois violões”. De Bellinati entraram a inédita “Fandango” e “Jongo”,
composição que se tornou um clássico no repertório do grupo Pau Brasil.
Pereira contribuiu com “Choro de Juliana”, “Amigo Leo”, “Santo Amaro” e “Café
Compadre”. Hoje, tanto “Choro de Juliana” como “Jongo” são tocadas por
violonistas de diversos países, em gravações mais tradicionais do que a ouvida
em “Xodós”. “Algumas de nossas composições entraram no repertório do
violão clássico. O cara pega a partitura, decora e a reproduz nos concertos”,
observa Pereira. “Como eu e Bellinati também temos em nossa formação a
bagagem do jazz, nossas versões acabam ficando diferentes, também por
causa das partes improvisadas”.
Os dois admitem terem ficado especialmente satisfeitos com a releitura da lírica
valsa “Se Ela Perguntar” (de Dilermando Reis). “Toquei essa música a vida
inteira. Minha avó sempre chorava quando a ouvia. Ficamos emocionados ao
escutar essa gravação”, conta Bellinati. “Ela possui uma magia que nem a
gente consegue entender como conseguiu. É uma coisa rara, uma benção.
Talvez tenham baixado alguns anjos no estúdio, na hora em que a tocamos”,
brinca Pereira.
Perfeccionistas, eles contam que chegaram a masterizar o disco pela segunda
vez, por não terem ficado satisfeitos com o resultado sonoro da primeira
versão. “Passei a vida achando que eu era perfeccionista, mas ao fazer esse
disco com o Bellinati percebi que eu sou fichinha perto dele. Ele tira até a
última gota do som”, diverte-se Pereira. “Esse disco representa a história de
nossas vidas, então tínhamos que caprichar”, retruca Bellinati.
Tratando-se desses dois grandes violonistas, que há décadas desenvolvem
carreiras consagradas internacionalmente (e já não precisam provar mais nada
a ninguém), só poderíamos esperar por algo assim: música brasileira de alta
qualidade, tocada com requinte técnico, elegância e emoção.
Carlos Calado é jornalista e crítico musical
Avenida Otacílio Negrão de Lima, 16585 Pampulha
Belo Horizonte, MG
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