Os mitos da psicanálise.

            “E falou Helohim:  “Seja luz!”  “E foi luz”.

                                               Bereshit

            Mitos é “aquilo que se diz” - como quando se diz que Deus fez o mundo com a palavra, “o processo de tecer” a trama dos sentidos e dos significados, a partir do qual a realidade se faz surgir e é regulada – uma rede de significantes produzindo, atraindo ou excluindo significados . O modo de ser da linguagem dos mitos é uma base importante para a eficácia da clínica psicanalítica, na medida em que trabalhamos no ambiente onde “se faz coisas, realidades, com palavras”, sem o manejo desse tipo de linguagem a eficácia clínica ficaria comprometida, pois usaria uma linguagem racional, intelectual na produção de informação e não de realidade.

            Outro fator importante da articulação entre a linguagem mito poética e a clínica é o a construção de Lacan “o mito do neurótico” onde vemos nosso trabalho se dar na construção e elaboração da estrutura mítica de cada um.

            O fato do inconsciente se articular com Imagos e Arquétipos nos coloca em um registro de manejar mitos e enquanto “construtores de mitos” na atividade clínica. O mito, o sonho e a interpretação têm a mesma estrutura – quando a interpretação está articulada com a construção e as mudanças da realidade, com aquilo que sustenta a realidade. Entender existencialmente a natureza do mito é aprender a usar o passado como remédio e que, assim como o inconsciente, o tempo não está no mito estando sempre no passado, no presente e no devir.

            O curso pretende definir a função dos mitos e o tipo de afinidade que têm com a psicanálise, ao ponto de Freud sugerir a quem quisesse ser psicanalista que mantivesse uma análise de seus sonhos e estudasse mitologia. A própria maneira de construir as bases conceituais da psicanálise vai passar pela maneira de se estruturar do discurso mito poético.

            Há um processo constitutivo importante quanto às organizações míticas matriarcais e as patriarcais, assim como com o surgimento do herói – que ocupa um lugar complexo dependendo da ordenação mítica-social onde surge.

            As ordenações míticas são definidoras imaginarias e simbólicas da sexualidade, do poder e da economia (sistema de trocas simbólicas).

            Será importante trabalharmos os referencias trágicos e cômicos das construções míticas e sua importância no linguajar anímico.

            Vamos ver que mesmo a maneira de interpretar tem mais efetividade se for organizada dentro de uma linguagem mito poética. É determinante que Freud utilize os referenciais míticos na perspectiva de uma psicopatologia psicanalítica, bem como os desdobramentos que se faz na psicanálise desses referenciais nos processos de subjetivação.

            Os mitos não são estruturas pré filosóficas ou pré-científicas, nem mesmo se confundem com o discurso religioso. Trata-se de construções muito próximas da maneira como se organizam os símbolos nas fronteiras do inconsciente. Apresentam a maneira como uma cultura ou uma pessoa se estruturam.

            Vamos trabalhar os mitos de: Édipo, Narciso, Eros, Prometeu, Gradiva, (Erinnerung),  Totem e Tabu, pulsão, libido, Moisés. Que se constituem enquanto ´mitos da psicanálise´ organizando seus conceitos mais determinantes.

            Vamos procurar refletir sobre a importância da tradição e mítica judaica no modo de pensar e trabalhar de Freud, a importância da Kabala e do Talmud nas formulações técnicas da psicanálise.

            O ambiente brasileiro é particularmente propício a este tipo de constituição, daí a psicanálise se dar relativamente bem aqui. Estamos culturalmente próximos aos povos originários e as populações africanas, que são estruturadas em bases mito poéticas. Apesar de uma superfície logico racional, nossos meios de operação mais profundos se enraízam nas formações orais e mito poéticas.

Programação: 8 aulas, semanais e online pelo Zoom

6as feiras das 10h às 12 h

Calendário:

Abril: 4, 11, 25  

Maio: 9, 16, 23, 30

Junho: 6