03 abr - 2025 • 19:00 > 17 abr - 2025 • 21:00
03 abr - 2025 • 19:00 > 17 abr - 2025 • 21:00
construindo uma prática clínica contra a neurose cishetero-colonial: amizade e relação na pratica clínica
SOBRE:
Nesta quinta edição do LAB construindo uma prática clínica contra a neurose cis-hétero - colonial convidamos todes a se ocupar das delicadezas e vicissitudes do amor e da amizade na relação/clínica, deslocando ativamehte o analista de um lugar de suposto saber (absoluto) e deslocando o analisante, aquele que se coloca a dizer e solicita a escuta, do lugar de subalterno a própria trajetória.
Aos analisantes, pacientes, clientes: quais as fantasias nos ocupam na relação analítica?
Aos analistas, psicólogues: quais as fantasias nos ocupam na relação analítica?
‘’Uma das constantes dessa violência moderna é que ela precisa a todo momento e de qualquer forma ser encenada. Seja real ou simulada, ela requer um acabamento brilhante, não pode prescindir dos serviços dos agentes de brilho’’ Glissant, poética da relação, p.228
A prática clínica convoca o deslocamento ativo e ininterrupto das cenas hegemônicas, dos juízos e das dívidas construídas no campo social e político que também compõe a cena clínica, a qual, por sua própria condição cênica, se faz sob a exigência de ume analista que encena o saber absoluto e ume analisante que nada sabe, inclusive, sobre a própria trajetória, encenando escutas precárias e que arquitetam a reinserção na hegemonia, na neurose, nas cenas coloniais de manutenção de modos de vida que se fazem na escassez e no ajuste ininterrupto da norma. A feitura ininterrupta da cena é a própria precariedade violenta colonial. Reivindicar a relação na prática clínica é o convite a uma operação ética, então, convocar para a clínica o próprio ato clínico, ético, e que conjuram dimensões de amor e amizade que não buscam se estabelecer a partir das cenas hegemônicas de amor e amizade.
‘’o domínio de uma ação acontece em seu ato.
o sentido-pleno de uma ação acontece no seu lugar.
o devir de uma ação acontece na Relação.’’ Gissant - Poética da relação, p.232
Esse Laboratório se ocupa em conjurar as condições opacas das relações clínicas, e suas condições éticas. É possível dizer ‘’esse é o jeito correto de ser analista, psicólogue’’? ou ainda ‘’é assim que uma pessoa deve se comportar diante seu analista’’?. Como considerar as delicadezas da ética clínica sem submeter a relação a condições a priori e ‘’regras de convivência’’? E quando o amor aparece na relação clínica? E quando a amizade se conjura na relação clínica?
Esta proposta de curso se baseia em três encontros de duração de duas horas e meia cada, em que serão trabalhados:
1o encontro: aula expositiva, apresentação de referenciais teóricos a respeito das relações clínicas e das amizades, da neurose como modo de subjetividade dominante e de suas estratégias de nomeação, especialmente no tocante às identidades e modos de se relacionar. Como pode a clínica ser um suporte ao sofrimento e, ao mesmo tempo, se fazer enquanto acontecimento à altura da opacidade da vida? O que é um amor num processo de análise? Como dar condições para que, da relação entre analista e analisante se faça um exercício confanyaco? Como dar contornos a um processo de análise sem cair numa resposta à demanda trazida pelo analisante?
construir contornos difere de cair numa forma representacional, numa estrutura pré-definida, projetada; construir contornos é justamente o exercício contínuo de não estruturar a relação entre analista e analisando nas projeções definidoras de um discurso de mestre, de um lugar normativo.
O ics (a pulsão) é contra-colonial, porque é metamorfose, disjunções inclusivas, fazer contínuo de desterritorialização, e não uma apropriação
2o encontro: Neste encontro trabalharemos a ideia de “amizade especializada” de Winnicott, no tocante ao agir livre das demandas de identidades e os atos confanyacos na clínica, que se fazem no exercício contínuo da opacidade das relações. Aqui, a clínica será abordada para além dos ditames normativos que a configuram num setting terapêutico, vista como experiência que atravessa as relações e dá condições para que modos de vida para além da norma colonial se manifestem e sejam cultivados.
3o encontro: por fim, o último encontro seria de acolhimento das questões suscitadas nos encontros anteriores, ao final, uma oficina/ritual de acesso às ruínas já vivenciadas (enquanto psi ou enquanto paciente), de modo a partilhar a expriência da quebra (jota mombaça) juntes, num espaço de cuidado coletivo. (importante: esse encontro não será gravado)
LIVROS: Winnicott, experiência e paradoxo (Tales ab'sáber); Revolução molecular (Guattari); Diários Clínicos (Ferenczi); poética da relação (Glissant); A terra dar, a terra quer (antônio bispo dos santos); Triálogos: exercícios de esquizoanálise (Guattari, Polack e Sivadon)
Sobre o laboratório construindo uma prática clínica contra a neurose cishetero-colonial:
A psicologia, em seu estabelecimento enquanto ciência e profissão, estruturou-se sobre a ficção cisgênera e heterossexual fomentada pelo discurso biomédico que patologiza tudo que foge à lógica da diferença sexual. Pouco se fala, nas grades curriculares de graduação em psicologia, a respeito da prática clínica com pessoas gênero-sexo dissidentes. E, quando elas aparecem, geralmente estão associadas a algum transtorno ou patologia, em termos como "ambiguidade sexual", "frigidez", "androginismo"; termos esses que, por mais ultrapassados que possam parecer, ainda fomentam manuais de prática psicanalítica e de avaliação diagnóstica.
Há muito sabemos que a despatologização da homossexualidade e da transgeneridade não basta para a descolonização do inconsciente colonial-cisheteronoermativo, que funda a neurose como modo de subjetividade dominante. Propor, portanto, uma clínica contra a neurose cishetero-colonial, é propor, antes de qualquer coisa, uma prática clínica que não seja orientada pelo projeto psicopolítico de neurotização; o que, em outras palavras, quer dizer: destituir a estrutura neurótica de seu lugar direcionador da clínica.
Podemos pensar esse movimento como uma espécie de hackeamento da clínica, de produzir modos de usar a psicopatologia que foi imposta a nós, pessoas dissidentes de gênero e sexualidade, contra a própria clínica. Que ume psicólogue trans e borderline faça clínica, por exemplo, estando do outro lado do divã, nos importa muito mais do que construir uma clínica gay friendly, mas que segue sendo ocupada por corpos cisgêneros, heteronormativos e neurotípicos, performando neurose em seus lugares de saber-poder. Desestabilizar a norma neurotípica, nesse sentido, é afirmar a patologia. E para isso é preciso ir muito além da mera despatologização. Pois, uma vez laudada, como é possível falar? Queremos uma clínica em que seja possível falar (e também escutar) desde esse lugar do diagnóstico, do laudo, da loucura.
Não à toa, a homossexualidade, a bissexualidade e a transgeneridade foram associadas a diagnósticos de psicose e de perversão, pois era preciso, para a norma, barrar nesses corpos o acesso à linguagem e, consequentemente, o acesso à produção de subjetividade. A patologização não produz apenas institucionalização, internação, medicalização, produz também solidão, impossibilidade de acessar a si mesme, de ser escutade; por isso é preciso ir além da despatologização e pensar em modos de cuidado e de produção de subjetividade desde o lugar do transtorno, do adoecimento, sem que para isso seja preciso chegar à neurose, que seria a higienização da performance subjetiva para um modo conivente com a norma cishetero-colonial. Afirmar a neurodivergência de subjetividades cisheterodissidentes é uma urgência se quisermos construir práticas de cuidado orientadas pela ética da diferença, desorientando a subjetividade da homogenização colonial adoecedora da norma.
IDEALIZAÇÃO E FACILITAÇÃO:
Zeca Carú de Paula
Vem navegando a exystencya como poeta, multi artista, pesquisador, professor, Psicanalista y Psicólogo (CRP 06/136173) É mestre e doutorando em Psicologia Clínica pela PUC-SP, e se dedica a exercer, fabular e especular modos de relação com a vida que sejam dignas e a altura do que ela pede, como o enfrentamento aos modos necropolíticos e colonias que vem nos tomando até o osso. Em sua pesquisa e prática se dedica às discussões sobre saúde mental, despatologização, dignidade, práticas relacionais com a vida para além das relações amorosas e a prática de uma escuta ética dos corpos que experimentam a vida nas margens das hegemonias.. Com histórico de atuações na Rede de atenção psicossocial no estado de São Paulo, atendimento em clínica individual, supervisão clínica e institucional de grupos e equipes, e coordenou o projeto Acolhe LGBT+, que viabilizou atendimento psicológico para a população LGBT+ em todo o território nacional durante a pandemia de COVID -19 (2020 - 2022). Compõe o bando biodiverso CARUARÊ, construindo uma pesquisa de práticas coletivas que conjurem possibilidades de se viver junto a partir de práticas de autonomia e relações multiespécie. É autor do livro "ynundação - um conjuro" de 2022 publicado pela editora O sexo da palavra.
maria eduarda checa é psicanalista, psicóloga clínica, escritora e pesquisadora, desobediente de gênero e sexualidade e transtornada. Mestre e doutoranda em psicologia clínica pela PUC-SP. Atualmente pesquisa as relações entre as dissidências sexuais e de gênero, os transtornos (ou diagnósticos) como territórios de disputa, e a construção de uma prática clínica orientada por uma ética da diferença, de combate à neurose estrutural dominante. É voluntária na Casa 1 e editora da Revista Cadernos de Subjetividade. É autora de "Desobrar-se" (editora hecatombe, 2021) e de "Muamba" (Urutau, 2023), ambos são livros de poesia.
INFORMAÇÕES:
Datas e horários: 03/04 + 10/04 + 17/04, das 19h às 21h30
Valores conscientes, você paga o quanto pode no momento!
Opção 01 - Mínimo: R$60
Opção 02 - Intermediario: R$85
Opção 03 - Ideal: R$110
BOLSA INTEGRAL/PARCIAL: se você quer fazer este curso mas não dispõe de recursos financeiros no momento, mande a sua solicitação de bolsa através do seguinte formulário: https://forms.gle/4S8z62sTcsdr9tRV9
Curso online e ao vivo, via plataforma Zoom
Todas as aulas são gravadas e disponibilizadas para quem estiver inscrite (vídeo disponível no drive por um mês após a realização do curso)
Emissão de certificado de participação para quem assistir às aulas ao vivo.
Classificação indicativa: 18 anos
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BRAVA
Um espaço de construção de comunidades a partir do compartilhamento de conhecimentos e à produção de saberes contra-hegemônicos. Os caminhos desenhados pela Brava passam por cursos, oficinas, aulões, rodas de conversa e outras iniciativas educacionais, centradas em discussões sobre raça, classe, sexualidade, gênero, colonialidade e pela formação de um pensamento crítico no geral, idealizadas e facilitadas por sujeites que moldam suas vozes a partir do enfrentamento à esses sistemas.
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