Com direção de Marcio Aurelio, texto de Alfred Tennyson e música de Richard Strauss, o emocionante espetáculo Enoch Arden foi criado como parte das comemorações dos 30 anos da Companhia Razões Inversas durante a pandemia por meio da Lei Aldir Blanc em 2021.
Interpretado pelo ator Paulo Marcello e pelo pianista Fernando Esteves, Enoch Arden (Op, 38, TrV. 181, de Richard Strauss) é um melodrama para narrador e piano escrito em 1897 para o poema narrativo do famoso poeta inglês, Sir Alfred Tennyson.
A montagem da Companhia Razões Inversas estreou no final de 2021, realizando apenas três apresentações para convidados no Auditório do British Council em São Paulo, três apresentações na Oficina Cultural Oswald de Andrade, uma apresentação na cidade de Piraju - SP e uma apresentação no SESI Amoreiras na cidade de Campinas – SP.
Para esta encenação foi realizada uma nova tradução da obra, mantendo o texto integral, uma vez que todas as traduções e apresentações já feitas no Brasil foram feitas a partir de uma versão bastante reduzida da obra.
Podemos considerar a figura de Enoch Arden como um anti-Ulisses. Ao retornar para sua casa após dez anos desaparecido, Enoch encontra sua mulher num novo casamento, com seus filhos sob os cuidados de seu antigo amigo e rival amoroso da juventude. Ao contrário de Ulisses, que aniquila os pretendentes de sua esposa, Enoch esconde sua identidade e decide jamais revelá-la enquanto estiver vivo, para não comprometer a felicidade dos filhos e de sua, agora, ex-mulher.
Trata-se assim de uma história de amor incondicional, na qual o homem abre mão de sua própria felicidade em favor da felicidade de sua esposa e de seus filhos, um comportamento contrário ao que se pode observar da maioria dos homens e infelizmente raro na atualidade, em especial na triste realidade que nosso país enfrenta em relação à violência de gênero.
A composição musical de Richard Strauss, que a sua época impulsionou ainda mais sua fama e carreira, foi descrita como música incidental. Consiste principalmente em breves interlúdios indicativos de mudanças de tempo e ambiente, bem como momentos de pontuação e comentários. Cada uma das duas partes é introduzida por um prelúdio e conclui com um poslúdio. Strauss usa leitmotifs para identificar cada um dos personagens: Enoch Arden (uma sequência de acordes em Mi bemol), Annie Lee (uma figura crescente em Sol), Philip Ray (uma melodia em Mi), o mar (Sol menor). Ele não as desenvolve em melodias, mas as usa estaticamente. Existem longas passagens onde o piano fica em silêncio enquanto permanece apenas a narrativa.