01 abr - 2025 • 19:00 > 02 abr - 2025 • 22:00
01 abr - 2025 • 19:00 > 02 abr - 2025 • 22:00
R$ 100,00 (+ R$ 10,00 taxa)
em até 12x R$ 11,38
Contribuições até 01/04/2025
R$ 75,00 (+ R$ 7,50 taxa)
em até 12x R$ 8,53
Contribuições até 01/04/2025
R$ 50,00 (+ R$ 5,00 taxa)
em até 12x R$ 5,69
Contribuições até 01/04/2025
SOBRE:
Após ser eleito, um dos primeiros atos de Donald Trump como presidente foi assinar uma série de decretos de retirada de direitos de pessoas trans* e de recrudescimento das políticas anti-imigração. A centralidade e desdobramento paralelo de decretos anti-trans e anti-imigrantes não é um acaso: o filósofo Paul Preciado já havia apontado que há um continuum jurídico-político entre “mudança de sexo” e migração, dois tipos de codificação de “corpos-fronteiras” cuja aparição é assinalada como uma ameaça ao Estado-Nação e sua Soberania. O papel da violência anti-trans no neofascismo, indissociável do neonacionalismo, se manifesta ainda em diversos outros países, como na Argentina sob o governo de Javier Milei, em El Salvador sob Nayib Bukele, no Peru sob Dina Boluarte e na Itália de Giorgia Meloni.
O avanço destas políticas não se restringe, contudo, ao aparelho de Estado, e nem mesmo a governos executivos de extrema-direita. As big techs também têm adotado medidas branco-supremacistas e anti-trans, como é o caso recente da Meta e do X, corporações transnacionais de propriedade respectiva dos bilionários Mark Zuckerberg e Elon Musk, duas figuras centrais do ciberfascismo atual. São também diversos os casos de violência anti-trans e contra pessoas dissidentes da heterossexualidade realizado por companheiros, parentes, clientes, patrões e todas as figuras que constituem o que chamamos de “sociedade civil”, incluindo grupos neonazistas crescentes (que, não raro, convergem com o que podemos chamar de “feminismo” imperial trans-excludente). Tudo isso indica, a nosso ver, o papel constituinte da violência cispatriarcal na própria forma global da socialidade moderna, que se desdobra no aparelho de Estado e no mercado mundial (outro nome da “sociedade civil”).
Diante disso, oposições como público-privado, Estado-mercado, ditadura-democracia, ou até mesmo direita-esquerda (como posições partidárias), se tornam limitadas para a compreensão da violência cispatriarcal constituinte do Capital Global e da maneira como sua atual dinâmica de crise fortalece o neofascismo. Isso é especialmente observado no esgotamento e nos ciclos cada vez mais curtos do chamado “progressismo”. Tanto no Norte quanto no Sul Global, o progressismo não só se mostra incapaz de fornecer uma resposta ou alternativa, mas se revela parte do problema. Segue-se sempre um mesmo roteiro: o progressismo, ao se propor a administrar a crise do Capital Global, dá continuidade aos processos de militarização, encarceramento, expropriação e extração “recursos naturais” e, com isto, (re)produz o terreno sob o qual o neofascismo prolifera. É o que ocorre no próprio Brasil de Lula, em que políticas econômicas neoliberais e estratégias conciliatórias de jogo político institucional permite que o neofascismo continue a prosperar como uma força social significativa, ainda que ele apareça como oposição no âmbito governamental[i]. Este roteiro resulta não apenas na emergência cada vez mais frequente de governos de extrema-direita, mas também na formação das condições de intensificação do caráter insurgente da massas de extrema-direita, mobilizada por profundos ressentimentos sociais.
Nossa proposta será, portanto, fornecer uma análise desse quadro em duas aulas: a primeira será dedicada à teorização social do fascismo e do neofascismo como fenômeno de massas e em sua relação com o desejo; a segunda aula será dedicada a uma análise transfeminista do que chamamos de guerra civil molecular do cispatriarcado. Além disto, este curso, mais voltado para a análise de conjuntura e diagnóstico do presente, será seguido por uma segunda parte, provisoriamente intitulada “Transfeminismo e micropolíticas antifascistas”, que será direcionada a um mapeamento das resistências e devires minoritários.
Aula 1 – Análise social do desejo: fascismo, neofascismo e ódio à diferença
Data: 01/04/2025
Duração: 3h
Nesta primeira aula iremos abordar elementos básicos a respeito do fenômeno do fascismo e daquilo que tem sido chamado de neofascismo. Embora os dois termos estejam sendo muito utilizados recentemente, raramente é apresentada uma definição conceitual clara e coerente a respeito do que de fato é o fascismo, ou ao menos parâmetros mínimos para que possa haver uma discussão produtiva sobre o tema. Por isso, nossa preocupação neste momento será deixar explícito com qual concepção de fascismo e neofascismo trabalharemos neste curso e no próximo (que será complementar a este).
Enquanto se poderia analisar o fascismo a partir, por exemplo, das dinâmicas institucionais históricas que sustentaram os regimes de Hitler ou Mussolini, há ainda a possibilidade de efetuar esta análise colocando em primeiro plano as dinâmicas sociais extra institucionais. Sob este aspecto, as considerações de Wilhelm Reich são incontornáveis para uma primeira aproximação ao tema. Na obra Psicologia de Massas do Fascismo, o psicanalista e militante comunista dissidente busca mostrar, primeiro, que os aspectos subjetivos de um fenômeno histórico dessa complexidade não podem ser negligenciados e nem são incompatíveis com uma análise materialista. Em segundo lugar, Reich mostra que, muito antes de se institucionalizar em um regime de Estado, o fascismo emerge como fenômeno de massas e que, portanto, é para a vida afetiva dessas massas que é preciso olhar.
Deste modo, se pode ultrapassar noções antiquadas como a ideia de que as massas teriam sido enganadas pelas lideranças fascistas e analisar a questão em termos de desejo. É retomando esta ideia, de que o fascismo é uma questão de desejo inconsciente e não de interesse consciente, que os filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari irão colocar em questão a própria concepção de desejo como ela tinha sido até então pensada na psicanálise. Para os filósofos, o desejo não é intrinsecamente marcado por uma falta, mas distingue-se por seu caráter produtivo e sua vinculação imediata com o social. O que devemos nos perguntar é, portanto, como e em que condições o desejo chega a voltar-se contra si mesmo, produzindo sua própria repressão em meio a formas mortíferas de socialidade.
A parada fascista da produção desejante é marcada pelo que os autores chamam de “polo paranoico”, pela obsessão com a reafirmação das identidades estagnadas – identidades que são sempre predicadas do homem branco, adulto, ocidental, urbano, cis-heterossexual etc. Se Reich podia observar esses elementos no movimento de massas nazifascista da Alemanha nos anos 1930 e Deleuze e Guattari o observavam na França dita “democrática” dos anos 1960, não é menos notável que essas mesmas dinâmicas fascistas se mantenham visíveis nos dias atuais. Isto nos permite sustentar que o fascismo é menos um fenômeno de governo do que uma micropolítica de massas e que, assim, o neofascismo do século XXI difere dos regimes do início do século XX de maneira apenas circunstancial. Assim, para complementar esta perspectiva, nos parece interessante combinar essa análise social do desejo, que começa com Reich e toma toda sua consistência em Deleuze e Guattari, com as reflexões críticas de Judith Butler a respeito, justamente, do problema do ódio à diferença que se manifesta na posição subjetiva de poder dominante da masculinidade cis-hétero e que resulta na produção neofascista delirante de um sem-número de fantasias paranoicas sobre as minorias raciais e dissidentes de gênero e sexualidade.
Aula 2 - A guerra molecular do cispatriarcado: considerações transfeminista sobre o neofascismo
Data: 02/04/2025
Duração: 3h
Na segunda aula iremos nos debruçar sobre as contribuições do(s) transfeminismo(s) para a análise do fascismo e, em especial, do neofascismo. Para tanto, apresentaremos o que entendemos por cispatriarcado, seu papel constitutivo na forma da socialidade moderna e sua lógica de aniquilação, bem na produção do desejo como desejo de aniquilação. Pressuposto de nossa análise é consideração segundo a qual o fascismo e o neofascismo não são um processo extrínseco da modernidade, um movimento “vindo de fora” que ameaça lançar a civilização na barbárie. Trata-se de uma resultante da própria dinâmica da “máquina civilizatória”, ao ponto de esta voltar-se, inclusive, contra
si mesma, mergulhando em dinâmicas suicidárias.
No que diz respeito à relação entre cispatriarcado e neofascismo, buscaremos atentar para o que há de novo nas dinâmicas neofascistas do presente global e o papel fundamental da violência anti-trans. Como analisarmos a crescente participação global de mulheres brancas enquanto lideranças neofascistas? E a adesão de pessoas lgbt’s e racializadas? Análises do fascismo histórico, em larga medida, foram feitas considerando o nexo intrínseco entre Capital, Guerra e Crise. Mas desconsiderando as relações de gênero como implicadas nessas três categorias. Hoje tal implicação é ainda mais evidente. O neofascismo não emerge apenas num processo de crise estrutural da acumulação do capital, mas também sob o crepúsculo do cispatriarcado, sendo ao mesmo tempo um processo de intensificação de sua violência.
IDEALIZAÇÃO E FACILITAÇÃO:
Agnes de Oliveira
Mestra em Filosofia (USP) com pesquisa sobre a obra Capitalismo e Esquizofrenia de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Doutoranda em Ética e Filosofia Política pela UFRN, na qual tenho me dedicado a pensar a relação entre capital, guerra e biopolítica a partir do processo mundial de encarceramento em massa.
Yasmin Teixeira
Psicóloga (USP), mestre e doutora em filosofia (Unifesp), com a tese Mutações da guerra: gênese do regime de conflitualidade do capital financeiro-securitário. Realizou períodos de estudo na Sorbonne Université e na Université Paris VIII e é autora do posfácio à edição brasileira da obra Guerras e Capital, de Éric Alliez e Maurizio Lazzarato. Atualmente me dedico ao ensino e à pesquisa em filosofia política contemporânea e estudos críticos da segurança internacional.
INFORMAÇÕES:
Datas: 01/04 + 02/04, das 19h às 22h
Valores conscientes, você paga o quanto pode no momento!
Opção 01 - Mínimo: R$50
Opção 02 - Intermediario: R$75
Opção 03 - Ideal: R$100
BOLSA INTEGRAL/PARCIAL: se você quer fazer este curso mas não dispõe de recursos financeiros no momento, mande a sua solicitação de bolsa através do seguinte formulário: https://docs.google.com/forms/d/1PgC3ZiV1l3Xba7KJ_0z8rSakIdkPLdLT5E2AMDs0Ksg/preview
Curso online e ao vivo, via plataforma Zoom
Todas as aulas são gravadas e disponibilizadas para quem estiver inscrite (vídeo disponível no drive por um mês após a realização do curso)
Emissão de certificado de participação para quem assistir às aulas ao vivo.
Classificação indicativa: 18 anos
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BRAVA
Um espaço de construção de comunidades a partir do compartilhamento de conhecimentos e à produção de saberes contra-hegemônicos. Os caminhos desenhados pela Brava passam por cursos, oficinas, aulões, rodas de conversa e outras iniciativas educacionais, centradas em discussões sobre raça, classe, sexualidade, gênero, colonialidade e pela formação de um pensamento crítico no geral, idealizadas e facilitadas por sujeites que moldam suas vozes a partir do enfrentamento à esses sistemas.
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