01 nov - 2023 • 20:00 > 01 nov - 2023 • 23:00
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Representante da tradição da Rumba Congolesa, do Soukouss e também da moderna música de Angola, Zola Star tornou-se requisitado em produções musicais e respeitado pela sua técnica singular de tocar violão. Durante sua carreira, fez parcerias com nomes que vão de Robertinho do Recife, Curumin, Sérgio Pererê, Abayomi AfroBeat Orquestra, Thiago França e Donatinho, até artistas de prestígio do seu continente, como o angolano Abel Dueré e o congolês Lokua Kanza.
Zola Star nasceu em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, e tem sua relação com a música marcada desde os primeiros anos de vida. Fugindo da guerra e em busca de estabelecer sua arte, ele deixou sua terra natal passando por diversas partes de Angola até desembarcar no Brasil, onde vive há 30 anos. Aos 24, começou a construir sua carreira de destaque nas noites cariocas, cantando em Lingala e em Kikongo, e logo encontrou parceiros para o seu som, que formaram a banda Afrotropicaliente. Sua estreia solo foi em 2017, com o disco “60 Graus”.
“Loyembo” chega para consolidar uma história de amor à arte, às suas raízes e ao Brasil. Gravado, mixado e masterizado por Angelo Wolf e com participação especial de João Werneck e Sara Hana, na música “Naza Yayo”, o álbum está disponível em todas as plataformas de música. Loyembor po L.A Simas
Há certa impressão cravada no senso comum no Brasil de que a África é uma unidade monolítica, culturalmente coesa e desprovida de nuance. Parecemos desconsiderar a multiplicidade de cosmopercepções, culturas, costumes, religiosidades, línguas e sonoridades que marcam o continente.
Zola Star, por exemplo, vem da região centro-africana que inclui o Congo (onde a mãe e ele nasceram) e Angola (onde nasceu o pai). Chegando ao Brasil na década de 1990, Zola trouxe do outro lado do Atlântico um matulão de sonoridades do universo sonoro congo-angolano, que passou a difundir no Brasil desde os tempos dos grupos Tropicaliente e Bana Angola: soukous rumbas, ndongolos e sembas, cantados majoritariamente em lingala, língua fundamental do complexo banto.
Neste Loyembo, trabalho gravado em apenas dois dias de novembro de 2020, Zola Star apresenta composições que abordam temáticas recorrentes na canção popular e na trajetória do artista: o amor em suas variantes diversas e a relação com a ancestralidade e a terra, o lugar de origem que, mesmo eventualmente deixado, não nos deixa.
Mais do que a temática das letras, entretanto, o que se destaca na música de Zola Star é a pegada sonora que dialoga diretamente com a corporeidade: a música aqui é feita para que o corpo responda.
Por corporeidade, não me refiro a uma percepção da cultura ocidental que encara o corpo apenas a partir da ideia de motricidade. A corporeidade que a música africana desperta tem dimensões morais, afetivas, sociais, intelectuais e espirituais. Para as culturas bantos, o ser humano nunca foi cindido em corpo e mente; o que existe é a interdependência entre todas as coisas que constituem o ser.
É por isso que a música de Zola Star desperta a percepção de que o corpo é terreiro; um espaço de possibilidade de invenção de mundos. Nossos corpos, domesticados, amansados, aniquilados por uma dimensão do tempo condicionada pela lógica produtiva do trabalho e do capital, encontram na música que os ventos do Congo assobiam, um campo aberto para a multiplicidade de sentidos daquilo que podemos ser em busca da plenitude, da ousadia e da liberdade.
Escutem e dancem!
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