Nesta roda de conversa contarei um pouco da minha história e a relação com meu pai, cercada de ausências e restrições. Ele, Ricardo Zarattini, foi um dos 15 presos políticos banidos do país em troca da libertação do embaixador Charles Burke Elbrick, sequestrado por militantes de esquerda em 1969. Eu tinha apenas 7 anos de idade e toda família ficou sem saber o paradeiro de meu pai depois que o avião com os 15 presos os deixou no México e o embaixador foi solto no meio da multidão que saía do jogo no Maracanã. Toda e qualquer conexão com meu pai foi abolida, e então, muitos medos, inseguranças e incertezas permearam minha infância e adolescência. Em 2016, participei de uma oficina ministrada pelo fotógrafo português João Pina durante o Fórum Latino-Americano de Fotografia, que tratava sobre arquivos e memórias da ditadura militar. Nosso professor nos levou ao Arquivo Público do Estado de São Paulo, na Zona Norte da cidade, quando pedi ao atendente a busca pelo nome de meu pai, Ricardo Zarattini, e pelo meu. 

Um misto de surpresa, emoção e tristeza me invadiu quando me deparei com aquelas pastas com documentos e fotos depois de mais de 40 anos. Encontrar nossos retratos de identificação de passagem pelo famigerado Dops (Departamento de Ordem Política e Social) gerou uma palpitação e um interesse sem fim para checar como os algozes da ditadura militar viam as pessoas que perseguiam. É nessa pesquisa que estou mergulhando atualmente.