O espetáculo #nãoéproblemameu, da Aleatória Companhia de Teatro, apresenta, por meio de uma estrutura fragmentada, cenas curtas e não interligadas de uma sociedade em crise.

Dois professores que acabaram de presenciar um linchamento coletivo discutem sobre o que poderiam ter feito ou sobre o que ainda podem fazer: um jovem pode ter morrido e ninguém fez nada. Um casal que assiste ao noticiário na TV, ao mesmo tempo que escutam, ou não, os gritos de uma vizinha que parece sofrer agressões: "Será que vai ser assim todo dia?". Em uma mesa de bar, dois amigos conversam e tentam estabelecer um diálogo sobre o atual cenário político-social brasileiro, mas são constantemente “interrompidos” por uma moradora de rua: "Boa noite, desculpa atrapalhar..." O percurso das cenas é permeado pela personagem de uma mulher que faz "Lives” com pequenos monólogos e desabafos: "Que tédio".

Em meio à maior crise sanitária do século assistimos à proliferação de inúmeros discursos de ódio nas mais variadas instâncias de poder, no momento em que as democracias sofrem ameaças por todos os lados e acompanhamos, muitas vezes, inertes, o ataque direto às pautas identitárias, aos direitos das mulheres, dos pretos, das pessoas trans-, e de todos aqueles e aquelas marginalizadas, silenciadas e excluídas. Nesse contexto, a peça da Aleatória, ao abordar a temática da violência e seus arredores, traz à baila a seguinte reflexão: “Como nos posicionamos diante do “espetáculo da barbárie”? Dentro e fora de nossas casas. A violência do deputado que rouba e a violência do nosso vizinho que agride a esposa. Como isso chega até nós? Abandonamos a causa ou compramos a briga? Falamos, discursamos, postamos, provocamos o debate, mas quais são ou têm sido nossas atitudes concretas frente ao vilipêndio dos direitos básicos da pessoa?

A partir desses questionamentos, a encenação da Aleatória Companhia de Teatro busca criar possibilidades de diálogo entre a forma que nos comportamos ou poderíamos nos comportar diante das situações de violência que esses conflitos revelam. Proporcionar um espaço de reflexão, através da linguagem teatral registrada em vídeo, na qual os discursos de ódio, bem como suas respectivas omissões, possam ser revistos e repensados.

Ficha Técnica:

Roteiro, Dramaturgia e Assistência de Direção: Letícia Negretti

Direção: Thales Alves

Elenco: Dover Buzoni, Felipe Tercetto, Giovana Lima, Juliane Maria, Letícia Negretti, Rafael Castro e Thiago Meiron.

Ator Convidado: Ramon Gustaff

Edição: Denise Magalhães

Produção Executiva: Carreira Produções Artísticas

Agradecimentos: Marly Carreira, Marcos Carreira, Macaxeira Arte, Magê Blanques, Taci Titero, Nádia Rodrigues e Vitor Grimaldi.  

Realização: Aleatória Cia de Teatro através do ProAC Lei Aldir Blanc