Dias Gomes escreveu a obra teatral O Pagador de Promessas em 1959, imortalizada em sua adaptação cinematográfica dirigida por Anselmo Duarte em 1962, único longa-metragem brasileiro a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Em 1988, ganhou uma adaptação para a TV, no formato de minissérie. A peça trata da miscigenação e do sincretismo religioso presentes na cultura brasileira, com ênfase na sinceridade da devoção popular em contraponto às diretrizes impostas pelos fundamentos da Igreja Católica. A história é centrada na saga de Zé do Burro, protagonista que tem um único propósito: honrar a paga de uma promessa que fez em um Centro de Candomblé a Iansã. Em sua inocência e vontade de saldar seu débito com a divindade, o personagem faz uma romaria à igreja de Santa Bárbara, como é chamada essa entidade no catolicismo. A jornada para que cumpra esse acordo firmado com um poder celeste leva Zé do Burroa enfrentar diversos desígnios, como a perda amorosa, a argumentação eclesiástica, o poder desumano da mídia e a força da lei, promovendo assim um combate interno com sua própria ingenuidade e a fé como valor maior. É uma questão de vida ou morte pagar a promessa alcançada. Mesmo escrita há mais de meio século, esta obra, plena de questões atualíssimas e personagens saborosamente brasileiros, nos faz confrontar nossos próprios valores, além de nos mostrar a força da obra de um de nossos mais importantes autores teatrais.