Em março de 2019, vinte e quatro atrizes conduzidas pela diretora Juliana Sanches (cofundadora do premiado Grupo XIX de Teatro, atriz, dramaturga, diretora e coreógrafa, que desde 2006 vem desenvolvendo e conduzindo temas acerca do feminino em suas peças e núcleos de pesquisa) contando com Hugo Kuchel (ator, francês, formado pelo Conservatoire National d'Art Dramatique. Em recente pesquisa como encenador pela CNSAD, atuou como estagiário no Grupo XIX de Teatro) na assistência de direção, passaram a se encontrar semanalmente na sede do Grupo XIX de Teatro, localizado na Vila Maria Zélia, zona leste de São Paulo, com o propósito de dilatar o repertório artístico sobre a ‘Mulher e o Tempo’, e experimentar cenicamente as provocações e inquietações a respeito do tema.
Ao longo de 3 meses essas artistas esmiuçaram e compartilharam suas próprias histórias, seus ciclos de vida e suas visões de mundo. Mulheres de idades e trajetórias diferentes, vindas de diversos pontos do estado de São Paulo reuniram-se para estudar autoras também de lugares e épocas diversas entre si, tais como Gabrielle Collete, Doris Lessing, Susan Sontag, Simone de Beauvoir, Adélia Prado, Maya Angelou, Virgínia Woolf, Jane Austen, Matilde Campilho, Cecília Meireles, Sylvia Plath entre outras, num estudo inédito e revelador. Instigadas por essas autoras e pelas provocações da diretora, as atrizes exercitaram a própria autoria na criação de cenas e textos, ao passo que mergulharam numa intensa pesquisa do universo feminino no tempo, suas várias camadas e complexidades, seus nós e a forma como esse tempo é vivido socialmente e individualmente, debruçando-se sobre o presente, que a cada dia aproxima o futuro e ressignifica o passado, questionando os espaços e rótulos conferidos às mulheres em suas fases de vida, o que esperam da mulher com a passagem do tempo, a dureza do mundo que limita cada mulher de acordo com a sua idade e as expectativas que isso gera.
As atrizes criadoras exploraram os encaixes e desencaixes, reais e imaginados, dentro dos padrões de idade e gênero, dos espaços públicos e privados, nas diferentes fases de vida da mulher. Investigaram, assim, os pontos de tensão e alívio entre os tempos internos e externos, as pressões sociais e pessoais, os desejos impostos e mais genuínos.
A pesquisa realizada durante a residência artística culminou na criação do espetáculo " A corda, Alice" com a realização de 4 sessões de abertura de processo em julho de 2019 na casa/sede do Grupo XIX de Teatro na Vila Maria Zélia, ocasião em que foi fundado o Acorda Coletivo.