O neoliberalismo é tanto uma forma de gestão da vida quanto dos mortos. A exploração capitalista neoliberal da força de trabalho, do desempenho dos corpos e da flexibilidade do desejo está intimamente articulada com a exploração da precariedade existencial e do sofrimento psíquico. Por meio da destruição sistemática das condições de vida, da violência do Estado-mercado, do destino desigual dos cadáveres, do neocolonialismo contemporâneo, o neoliberalismo multiplica as condições de emergência da angústia e da melancolização como afetos indispensáveis para o governo das subjetividades. 

Este curso pretende discutir alguns pontos de articulação entre governamentalidade e necropolíticas no neoliberalismo global em suas conexões com a racionalidade neoliberal brasileira. 
Na primeira aula, será apresentado o campo conceitual em que se encontram as noções de necropolítica de Achille Mbembe e  governamentalidade de Michel Foucault, que, junto com uma teoria da subjetivação de orientação psicanalítica, fornecem as bases para a compreensão do que chamo de necrogovernamentalidade. 
No segundo encontro será possível desdobrar essa análise tendo como objeto o mundo do trabalho por aplicativos e a violência de Estado, dialogando com as lutas sociais contra o capitalismo neoliberal.

Conheça o livro do ministrante Governar os mortos, lançado na Coleção Explosante em 2021.

Fábio Luís Franco concluiu o mestrado em filosofia na FFLCH–USP em 2012 sobre a filosofia biológica de Georges Canguilhem, financiado pela Fapesp e com estágio na Universidade Paris VII–Denis Diderot. Em 2018, ainda como bolsista da Fapesp, doutorou-se em filosofia pela mesma instituição. Como pesquisador de pós-doutorado vinculado ao International Research Group on Authoritarianism and Counter-Strategies (Irgac), do Rosa-Luxemburg-Stiftung, e ao departamento de psicologia clínica do IP-USP, Franco investiga necropolítica e a gestão do sofrimento psíquico no contexto do neoliberalismo no Brasil. Ocupa também o cargo de pesquisador-visitante na cátedra de "Sociology of the Future of Work", na Einstein Center Digital Future e na Humboldt-Universität zu Berlin, ambas na Alemanha, e de professor-convidado da PUC-SP, onde ministra as disciplinas de teoria psicanalítica no curso de especialização. É, ainda, psicanalista membro do Fórum do Campo Lacaniano de São Paulo e pesquisador-membro do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (Latesfip-USP). Franco atuou como consultor da Unesco entre 2014 e 2015, junto à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. De 2015 a 2016, foi assessor da Coordenação de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura Municipal de São Paulo, onde integrou os esforços de concepção, preparação e revisão da Cartilha de Enfrentamento ao Desaparecimento da prefeitura.

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