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Carolina Bianchi e a História do Cavalo - Compartilhamento de procedimentos de criação

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Evento encerrado

Carolina Bianchi e a História do Cavalo - Compartilhamento de procedimentos de criação

17 ago - 2020 • 21:00 > 17 ago - 2020 • 23:00

 
Evento Online  

Descrição do evento

O projeto SALA ABERTA #REC apresenta > Ação #4 - Compartilhamento


Carolina Bianchi e a História do Cavalo – compartilhamento de procedimentos de criação

(*Este encontro é uma iniciativa independente sem qualquer tipo de patrocínio, e sua contribuição é fundamental para ele acontecer.

 

 “Narrar é se perder num bosque muito escuro e úmido.”

 

“Me proponho a confabular sobre os processos de criação dos meus trabalhos.

Compartilhar certo vocabulário, certa animosidade, certas angústias que geraram: O Tremor Magnífico, LOBO, Quiero hacer el amor e Mata-me de prazer. 

Dizer sobre alguns anos em que fui escrevendo textos dentro do escuro, dentro da paixão, dentro da confusão, e fui colocando devagar as mãos em muitos buracos, falando com fantasmas de diferentes épocas e lhes dedicando um bocado de tempo, um bocado de História. Dizer os anos em que fui ficando molhada diante dos homens e também com as mulheres, e molhada diante do que não tem gênero, e com o que aparece no sonho, e com aquilo que é prédio, aquilo que tem quatro patas, aquilo que é mau, aquilo que se cospe, aquilo que nem tem nome.  

Olhar os buracos dessa linha do tempo da Cara de Cavalo não é falar sobre mim, mas falar de um monte de gente viva e um monte de gente que já morreu.

E falar de muitas mulheres que escreveram sua umidade no tempo, falar do peso do metal, falar do diabo.

Falar com as pessoas. Encontrar pessoas, ainda que na distância.

Para tudo isso, embarquei na possibilidade de compartilhar um pouco dos fios que conduziram essas criações, como quem junta os pedaços de diferentes fábulas.

E toda fábula, sabemos, é composta de uma beleza e uma ferida”.

Carolina Bianchi


    

Assista a entrevista de Carolina ao Canal Arte 1:




Sobre a pesquisa de Carolina Bianchi 


Nos últimos anos, Carolina Bianchi tem mergulhado em uma pesquisa sobre as forças do erotismo e seus desdobramentos na cena, suas pulsões implacáveis de êxtase e morte. Tentando averiguar no próprio corpo enquanto performer e nos corpos dos coletivos de artistas que trabalha, as possibilidades da energia sexual enquanto propulsora de uma presença extrema na cena e claro, no mundo.

A proximidade irmã entre morte e erotismo, as terríveis tentativas de explicar/dissecar essas sensações através das palavras, implicam uma espécie de sacrifício da linguagem, e como aqui estamos a falar de performatividade, esse sacrifício também é do corpo.


Essa pesquisa, intitulada “estudos para um corpo extremo”, apresenta um corpo que tenta ao máximo se conectar com “seu erotismo”- esse aspecto imediato da experiência, que inevitavelmente vem amalgamado à força de morte. E por consequência, ao horror, à mística e à transgressão.

Carolina promove uma tentativa incansável da materialização de estados que se constroem nessas praticas performativas, aliados a uma poética textual extremamente carnal, e uma pesquisa estética que envolve intensa arqueologia do universo de paixões da diretora: obras da pintura barroca, canções emblemáticas de outras décadas, filmes de horror, e autores como Emily Dickinson e Pier Paolo Pasolini.

De suas obsessões, resultaram os trabalhos Mata-me de prazer , Quiero hacer el amorLOBO O Tremor Magnífico.


Os trabalhos foram realizados tendo, como parte fundamental, a criação e a vivência de residências artísticas que serviram de alicerce para o compartilhamento e a troca profunda das práticas e teorias abordadas pela artista. Cada trabalho, é resultado das problemáticas e obsessões encontradas, a partir de experimentações verticalizadas através de práticas especificas, e que se tornam fios condutores da dramaturgia dos espetáculos.


A partir de Mata-me de prazera residência Manifesto de um corpo delirante trabalhou treinos de telepatia, hipnose e fricção do corpo com outras matérias para obter prazer erótico. Já Actos Passionales  foi a residência que originou Quiero hacer el amor, performance onde um grupo de mulheres fazem amor com edifícios. A rebelião de Artemísia foi a residência que gerou o espetáculo LOBO, onde Carolina trabalhou apenas com performers do sexo masculino. E por fim, A linguagem diabólica , que gerou e alimentou as práticas de O Tremor Magnífico, que vão do estudo de uma linha do tempo borrada, a dançar com fantasmas e a trabalhar com a ideia de um estado de possessão.


Os espetáculos citados aqui foram construídos junto a um coletivo de artistas – Cara de Cavalo – que assumem diferentes funções a cada obra, sendo grande parte desses artistas oriunda das residências artísticas. 


Os espetáculos criados por Carolina Bianchi y Cara de Cavalo consistem em pequenos mundos por onde se cavalga com uma linguagem muito própria. As cenas formam um amontoado de equações insolúveis, pequenos quadros de horror e beleza, molhados de suor, esgotados de êxtase primordial, sem apontar saídas, e a angústia do Eros sempre contempla a morte. A morte não como finalidade, mas como uma parte inevitável da jornada poética: é sempre preciso se despedir de algo para uma nova coisa surgir. 


Bio Carolina Bianchi 


Carolina Bianchi é diretora, performer e dramaturga e suas criações atravessam o teatro, a dança e a performance através de trabalhos autorais gerados em parceria com artistas multidisciplinares. A esse coletivo de artistas que a acompanham a cada obra, deu o nome de CARA DE CAVALO. Sob esse formato concebeu: Mata-me de prazer (2015), Quiero hacer el amor (2017), LOBO (2018) , uma nova versão de Mata-me de prazer (estudo oral) em 2018 e O Tremor Magnífico (2020). 

Carolina integrou a residência de dramaturgia Panorama Sur em Buenos Aires (2017) , onde escreveu a primeira versão de LOBO. Em novembro de 2018 realizou uma mostra de seus trabalhos no Sesc Vila Mariana/ SP, intitulada Maratona das Paixões.  

LOBO foi selecionado para  a MITSp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, para o 25° Festival Internacional Porto Alegre em Cena (RS), Festival Internacional Brasil Cena Aberta (RJ), além de realizar diversas apresentações em espaços referentes da cena teatral brasileira como Teatro Oficina. O espetáculo foi selecionado para participar da programação “Brazilian Experience” organizada pela NYU  e pelo teatro NYU Skirball de NY, mas devido a pandemia a programação foi suspensa. 

Recentemente elaborou e coordenou o workshop A linguagem diabólica no Estudio Fita Crepe e no Sesc Santana em São Paulo e no 18° Festival Internacional de Teatro de La Habana, em Cuba; anteriormente os workshops e residências artísticas A Rebelião de Artemísia (MITsp, Oficina Cultural Oswald de Andrade) Actos Passionales, Hardcore from the heart - práticas porno coreográficas, Manifesto de um corpo delirante, O colapso do maravilhoso e um laboratório de escrita A escrita Incandescente

Outras criações: Utopyas to every day life (2017) instalação coreográfica de longa duração em parceria com a bailarina Flávia Pinheiro, Rêverie (2014) parceria com a bailarina e coreógrafa Morena Nascimento, Expedição a Marte ( Rio de Janeiro, 2014), Me voy a saltar sobre tu cuerpo (2016) e Gênera (2017) .

Durante dez anos trabalhou à frente da Cia. dos Outros, grupo de pesquisa cênica de São Paulo com quem criou os espetáculos: Solos Impossíveis, A pior banda do mundo e Corra como um coelho.


Assista ao teaser de LOBO:



 Comentários 

 

 

(...)“ Eu achei maravilhoso o que eu acabei de ver agora. Eu nem sei como definir. Vocês conseguiram reviver todo o cimento, os canos, o espaço do teatro Oficina. Pena que vocês não chegaram na árvore. Mas eu acho que vocês são um laboratório de Cosmopolítica porque desde que vocês entram em cena, têm uma visão que abrange o espaço todo. (...)Eu achei maravilhoso. Foi a coisa mais forte que esse espaço talvez já tenha recebido no sentido de revitalizar o espaço, de botar axé, anima no espaço.

 (...) Uma bruxaria o que vocês estão fazendo muito bem. É um laboratório que deve crescer muito com a percepção de vocês do público. Porque o público ama.  E o público deve estar doido para estar junto. Não que ele vá para a pista, mas mesmo de onde está, eu por exemplo fiquei num lugar só, mas vivi a peça toda todo o tempo. Muito grato. Eu quis ver porque eu vou fazer Roda Viva e eu aprendi muito com vocês hoje. Eu sou muito grato. Meus parabéns e meu amor eterno”.

 

José Celso Martinez Corrêa – Teatro Oficina



 

“LOBO”, o delírio fetichista-feminista desta jovem atriz, performer, encenadora e dramaturga é um enigma paradoxal: apesar da fruição prazerosa e de concepção aparentemente simples, há nele uma força simbólica, poética e sensorial que compromete qualquer avanço de palavras que intentem encarcerá-lo numa análise racional – o que talvez explique a incapacidade de alguns críticos que buscam enquadrar a experiência proposta às suas definições arcaicas do que é uma obra cênica. Por se tratar de um exemplar muito bem pensado de teatro-performance, em que a fábula não evidenciada dá lugar a um conjunto de símbolos que delineiam o ponto de vista do emissor sem a necessidade de descrevê-lo ou inscrevê-lo num contexto específico, a obra segue a lógica intrínseca da Performance Art, ou seja, a de deixar que a experiência do(s) corpo(s) presente(s) na cena (e fora dela) se torne(m) a principal chave para a compreensão do todo. Ao mesmo tempo, do ponto de vista do Teatro, “LOBO” se apresenta como um elaborado espetáculo que alia poder visual, sarcasmo e teor confessional para retratar uma sociedade que se deixou convencer pelo mito do Homem como centro do Universo.

Diones Camargo é dramaturgo e roteirista

 

 

(...)Poderia falar das inúmeras referências utilizadas pela dramaturga, poderia falar das mulheres esquecidas que ela cita, das inúmeras ironias, da metalinguagem do teatro - em que nos lembramos de como nos tratam, como nossos corpos são objetificados, como somos silenciadas e invisibilizadas; de como, tantas vezes, ironicamente pensamos que falamos sobre nós, quando na real estamos contando a história deles.

Ela faz "das tripas coração" e nos encena o que nos tem acontecido.

O tudo que temos dado e de como ficamos no final.

Isso nos liberta, porque afinal isso é também o teatro, libertação.

Mas prefiro dizer que Carolina , maestra da cena, é eficaz na forma e no conteúdo para falar destes tantos assuntos de forma pictural, sem nunca dar espaço para estereótipos grotescos; o sangue, os cheiros, a morte do falo, a metalinguagem, os corpos, o surrealismo poético, o terror, a auto ironia, tudo ali. Ela orquestra um jogo, mas nos dá a liberdade de olhar pelo buraco de fechadura que quisermos, e às vezes participar e interagir.

LOBO, é um manifesto como narrativa. Feminista e feminista. Sem ser condescendente, sem abrir mão do corpo. Nada de agressividades, mas com todos os elementos necessários num momento em que já deu de sermos cordatas”.

Luane Araujo - ponte e fronteira

 


Serviço:

Encontro para compartilhamento de procedimentos de criação

Com Carolina Bianchi

Dia 17 de Agosto de 2020

Das 21h às 23hs

Projeto Sala Aberta #REC

Idealização e curadoria: Carla Estefan

Realização: Metropolitana Gestão Cultural


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                                                           Metropolitana Gestão Cultural apresenta o projeto Sala Aberta #REC 

Sala Aberta #REC é um projeto independente de artes performativas, que parte da premissa do isolamento social e do desejo de reaproximação entre artistas e  público, para gerar novas experimentações artísticas e espaços de encontro através de plataformas virtuais.

 “Sala Aberta” porque as “salas” das casas de todes artistas participantes estará aberta ao público.

“REC”  abreviação de recording, gravando / nossas ações serão todas online, e porque desenhamos 3 vetores de ação.

Sala Aberta #REC 

REC  Reconexão, Experimentação e Compartilhamento.

VETOR #Reconexão > Encontros mensais de redes de reflexão e ação entre trabalhadoras culturais nacionais e internacionais. Gestoras, produtoras, curadoras, diretoras de espaços e companhias, articuladoras, artistas, técnicas em diálogo sobre seus contextos e universos de atuação.

VETOR #Experimentação >Através de nosso novo canal no Youtube, de nossas redes sociais e de plataformas como Zoom, Spotify, Soundcloud, os artistas nacionais e internacionais convidados ao SalaAberta#REC realizarão experimentos artísticos inéditos online.

VETOR #Compartilhamento >Artistas, pesquisadoras, ativistas, compartilham com o público os seus processos e métodos de criação. Masterclasses, palestras, cursos, workshops, debates e provocações.

Histórico do projeto: 

SalaAberta#REC - Iniciativa realizada pela Metropolitana Gestão Cultural nasce em Maio de 2020 com o objetivo de reconectar artistas e público em tempos de confinamento. Concebido por Carla Estefan, que assina a curadoria da programação, já realizou 2 encontros internacionais de gestoras, produtoras e curadoras de artes performativas (online e com transmissão ao vivo) concretizando a conexão entre 17 gestoras e criadoras e gerando 8 horas de material registrado (vetor reconexão) ; em junho realizou um encontro público com Janaina Leite (Prêmio Shell) sobre sua criação dramatúrgica, que reverberou na criação de 2 edições do workshop dramaturgias híbridas e performativas (vetor compartilhamento); já em julho associada ao movimento NITE, da Holanda, criou com Janaina Leite uma intervenção audiovisual de Stabat Mater e com Carolina Bianchi exibiu uma edição do registro do espetáculo LOBO no Teatro Oficina antecedida de uma entrevista/manisfesto, dentro do evento "Carrousel 24h Global Art" (vetor experimentação) e em agosto cria a mini mostra “Fogo nas Entranhas”, composta de 3 experimentos performativos online com artistas expoentes da experimentação cênica, Carolina Bianchi, Janaina Leite e o coletivo feminista chileno Colectivo Lastesis.

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